sábado, 29 de outubro de 2011

Sorria



A minha felicidade
Mora no teu sorriso...
Então, te peço
Apenas que sorria
E perdoe
O mau gosto
Que tenho para tudo...
Porque mau gosto
É isto
Gostar do que
Quase ninguém
repara...
Da árvore nua
Na esquina
Da esquina tomada
De folhas secas
Das folhas secas
Que caíram
Da árvore nua...
E se ainda te pareço,
Assim sem sentido
Então, repara
Nas folhas,
E por quem elas caem...

                                                                          Aline Monteiro


“Clareia minha vida, amor, no olhar”
(Pois é – Los Hermanos)

segunda-feira, 17 de outubro de 2011

A parte que me falta



Sou tão saudade
a ouvir
Uma música antiga...
Som abafado
das memórias
Meio verdades
Meio invenções
Meio filmes
“Blanc et Noir” cheio de
Sorrisos de propaganda
Retrato na parede
Cheiro de tinta fresca...
O sofá ao luar
A contar estrelas
Nossas trilhas
Nossas histórias...
Sem drama ainda
Sem o terror da pena
O romance era comédia
De final feliz
E feliz nossos sorrisos
No fim
Pedindo bis
Até chatear
Até a novidade
Ser clássico
E o clássico
Virar esse cheiro
De poeira...

                                           Aline Monteiro



“Mas quando você me amar, me abrace e me beije bem devagar
Que é para eu ter tempo, tempo de me apaixonar
Tempo para ouvir o rádio no carro
Tempo para a turma do outro bairro, ver e saber que eu te amo
Meu bem, o mundo inteiro está naquela estrada ali em frente
Tome um refrigerante, coma um cachorro-quente
Sim, já é outra viagem e o meu coração selvagem
Tem essa pressa de viver”
(Coração Selvagem – Belchior)


Na foto, meu querido amigo Thiago Soeiro.

domingo, 16 de outubro de 2011

Improviso



Palavras improvisadas
Para enganar minha fome
E matar nem que seja
De mentirinha
O desejo de viver o verso,
Ritmar a rotina,
Aliviar a vida...
Quero apenas poesia
É tudo o que quero!
Guardada as pedras
Assim como minha voz
Que, um dia, cantará rouca
O refrão dos meus versos...

                                                             Aline Monteiro



“O dialeto que se usa
À margem esquerda da frase,
Eis a fala que me lusa,
Eu, meio, eu dentro, eu, quase.”
(Paulo Leminski)

terça-feira, 11 de outubro de 2011

À noite



Na noite escura
A lua refletiu
Grandes olhos
De solidão.
Luz que hipnotiza...
Como poder ser?
Tão bonito!
Tão triste!
O tempo há
De dissipar
Essas antagonias,
Há de juntar
O que em mim
Já nasceu
Ausente...

                                                      Aline Monteiro

“o vento vai dizer
lento o que virá...”
(O vento – Los Hermanos)


segunda-feira, 10 de outubro de 2011

Frágil



Minha fragilidade
Tens nas mãos.
Tua presença
Me faz
presa fácil de ti.
sem defesa
Perco o chão
E o céu infinito,
Tão fácil,
Desaparece.
Tudo pára
quando ficas
a me olhar
assim
sem cuidados,
sem receios...
tão simplesmente
porque queres,
porque me faço
presente
à tua vista.
À tua vontade
A minha se desfaz
 desimportante,
Desinteressante...
À tua imagem
Não há luta,
Não há combate...
Estou desarmada
Da poesia e
Do pensamento.
À tua presença
Nada mais
Me pertence
Nem o verso
Nem a palavra...

                                                                  Aline Monteiro


"É, pode ser que a maré não vire
Pode ser do vento vir contra o cais
E se já não sinto teus sinais
Pode ser da vida acostumar"

(Dois barcos - Los Hermanos)

sábado, 8 de outubro de 2011

Champagne Supernova



Meu último desejo
É ouvir Champagne Supernova
Contigo...
E observar o efeito da melodia
No teu rosto muito,
Muito perto do meu...
Para mim e em mim
Apenas a música,
Apenas a tua respiração...
Será que sorririas?
Será que estranharias
O som pesado
Das guitarras?
Não dormirias.
Sei que não dormirias...
Não sei se compreenderias
A minha vontade
De surpreender
Teu espanto,
Espreitar tuas reações...
Queria ser,
Durante o tempo
Dessa canção,
Tua única expectadora.
A última a testemunhar
Teu rosto a sentir
Pequenos prazeres.
Sutis desprezares...
Ao som de Champagne Supernova
Me acolheria em ti
E nesse espaço mínimo,
As minhas mãos entrelaçando as tuas...

                                                                               Aline Monteiro

"Eu vi quando você me viu
Seus olhos pousaram nos meus
Num arrepio sutil
Eu vi... pois é, eu reparei
Você me tirou pra dançar
Sem nunca sair do lugar
Sem botar os pés no chão
Sem música pra acompanhar..."
(Cupido - Maria Rita)

quinta-feira, 6 de outubro de 2011

Ensaio



...queria te falar do tempo,
Que para mim
Corre tão estranho
E me faz estranhar
Quase tudo...
Ele passou aqui!... Eu não senti...
O espanto é certo...
As pessoas. Suas roupas. Suas vozes...
Certas coisas não me convencem.
Ao menos, já sei que temer
É uma forma despretensiosa
de acreditar.
E acreditar é involuntário...
Quase esqueço o cheiro
Que tem as lembranças. Sempre!
Isso o tempo não mudou...
...queria te dizer que...
És como o tempo sobre mim
Reinas. Transformas. E passas...

                                                                            Aline Monteiro

“Se ela te fala assim, com tantos rodeios,
É pra te seduzir e te
Ver buscando o sentido daquilo
Que você ouviria displicentemente.
Se ela te fosse direta, você a rejeitaria”
(Sentimental – Los Hermanos)

quarta-feira, 5 de outubro de 2011

Réaliste Infatigable



Realista incansável é
Essa preocupação
De querer que
As coisas façam
Sentido.
A lágrima quer
Escorrer.
O bom senso diz: Não!
O corpo quer convencer
Que é preciso
Para que os olhos
Sejam lubrificados,
Repetindo incessantemente:
Não é fraqueza,
É necessidade...

                                                        Aline Monteiro

“Eu sou um homem fechado.
O mundo me tornou egoísta e mau.
E minha poesia é um vício triste,
Desesperado e solitário
Que eu faço tudo por abafar.
Mas tu apareceste com
Tua boca fresca de madrugada,
Com teu passo leve,
Com esses teus cabelos...
E o homem taciturno ficou imóvel,
Sem compreender
Nada, numa alegria atônita...
A súbita alegria de um espantalho inútil
Aonde viesse pousar os passarinhos!
(Canção do Amor Imprevisto – Mário Quintana)


terça-feira, 4 de outubro de 2011

A troca



Na boca
O vazio de palavras
Não ditas,
Resguardadas
Para a minha proteção.
Em troca
Ofereço a vida
Que ora me pertence,
Ora me escapa
Por essa noite
Muito escura
Muito longa
Muito curta...

                                                         Aline Monteiro

“Não dês valor maior ao meu silêncio;
E se leres recados numa folha branca,
Não creias também: é preciso encostar
Teus lábios em meus lábios para ouvir.
Nem acreditas se pensas que te falo:
Palavras são meu jeito mais secreto de calar”
(Lya Luft)

domingo, 2 de outubro de 2011

Sobre a felicidade



Sabe a felicidade?
Isso que dizem
Que devo ir atrás.
Ela me surpreende
Ao bater a porta
Só pra dizer
Que está de saída...
Às vezes, fica escondida
Me soprando
Pequenos ventos
De risos,
Presos no canto
Da boca,
Tão passageiros...
Ela me visita os sonhos,
Me provoca.
Me fornece
Algumas pistas
De seu habitat,
Sempre nômade,
Sempre miragem...
Da sua figura
Apenas os tons
De suas cores marcantes...

                                                                   Aline Monteiro


“A felicidade é como um artefato cobiçado que gradativamente torna-se aquecido em nossas mãos. De forma que, no processo de superaquecimento, chega o momento no qual não o conseguimos segurar. E por não conseguirmos empunhá-lo, resta-nos poucos períodos de tempo para desfrutar de sua posse, e quanto mais resistimos a deixá-lo cair, mais abrupta, violenta e dolorosa é a queda".
(Comentário a respeito da felicidade - Camila Ramos)