sexta-feira, 24 de fevereiro de 2012

Irreversível



Não há rima que me caiba
Porque cresci me espalhando
Nos versos que eu tinha...

A poesia me chamou,
Mas não era um convite...

Dispensável é a respiração
Não a poesia...


                                                    Aline Monteiro


“...Descobre-se um amor
Na iminência de perdê-lo”.
(Carpinejar)

segunda-feira, 20 de fevereiro de 2012

Bloco das ilusões



Ao descompasso
De um coração
Acelerado,
Querendo
Ter vida própria
Experimentei os moldes
Da vitrine.
Não me coube
A métrica
Minúscula,
Sapato apertado
Me limitando
Os passos,
Incomodando
até pensamento...
Sem uma rima pra enfeitar
o verso ,
Sem um jogo de ideias
Pro raciocínio...
 Foi assim que vi
O bloco da ilusão
passar...

                                                                  Aline Monteiro



“Lá fora, amor, uma rosa morreu, uma festa acabou, nosso barco partiu
Eu bem que mostrei a ela, o tempo passou na janela e só Carolina não viu”.
(Carolina – Chico Buarque)

Vende-se



Vende-se filhote de bit bull
Sem qualquer tipo
De adestramento,
Só faz e ouve
O que quer.
Faz as necessidades
No quintal,
Mas vez ou outra
Baterá uma saudade
Ou uma preguicinha
E acabará fazendo
Dentro de casa mesmo...
Vai destruir seus
Melhores sapatos,
Suas melhores roupas,
Vai revirar seu lixo.
Vai pular nas visitas e
Assustar as criancinhas.
Vai dormir no seu sofá,
Vai rolar na terra
Alguns segundos
Depois do banho.
Vai roer seus móveis,
Fios elétricos e indefesas
Plantinhas.
Vai te fazer rodar
O bairro todo
Atrás de sua ração.
Vai te trazer gastos
Como xampu neutro,
Sabonete, coleiras, mordedores e
Remédios...
Vai te fazer pesquisar
Por horas na internet
A respeito de sua raça,
Vai querer brincar
Nas horas mais
Inoportunas do dia.
Vai te deixar
Preocupado e pensar
Duas vezes antes de
Sair de casa...
Em algumas semanas
Ele vai estar
No papel de parede
Do seu computador e
Celular.
Seu nome vai ser a
Senha de acesso
Em páginas da internet
E vai ocupar deliberadamente
Seus álbuns de fotos
de redes sociais
E afins...
Sim. Você lhe dará
Um nome, um apelido...
Mas ele atenderá
Somente por “Neném”
Porque é o que ele será seu,
Um neném incorrigível
Que dormirá de barriga
Pra cima que nem gente,
Conhecerá o significado
Da palavra “sentar”
Mas o fará apenas
Quando lhe der na telha...
Vai te morder como um
Cão bravo,
Vai te arranhar como um gato.
Sairá que nem boi desembestado
Quando tentar resgatá-lo
Da chuva...
Te amará incondicionalmente
E perceberás isso
Na incontrolável
Felicidade ao te ver logo
Pela manhã...
Vende-se
Filhote de pit bull
qualquer um
menos o da foto...

                                                           Aline Monteiro



“Quanto pior o cachorro, mais nos apaixonamos”

sexta-feira, 17 de fevereiro de 2012

Espaço



Entre toda
Essa bagunça
Deixei alguns espaços...
Livres
De exigências
Demasiadas
Ou mínimas
Que fossem...
Os protegi
De todo
Meu orgulho,
Cuidei
Para que
Ninguém
Por engano
Ou intenção
Os ocupassem...
E esperei
O carnaval
Passar,
Toda essa poeira
Baixar...
Espero
Que essa
Bagunça não
Te assuste...
Pelo menos
Até acostumares...
Até preencheres
Definitivamente
Todos esses
Espaços...
                                                Aline Monteiro


“Amor, eu te proíbo de não me querer...”
(Nos seus olhos – Nando Reis)

Flor/Dor/Amor




No teu coração não cabem
Flor/dor/amor
Apenas a forma trabalhada,
Montada peça por peça
Das teorias
Empoeiradas
Que nem às
Traças mais
Interessa,
Porque até
Elas já
Se cansaram
Dessa monotonia...
Dessa separação de idéias?
Fique com a forma,
Com a tessitura...
Que a minha forma
Moldo eu
Com tudo que está
Aqui embaixo,
Visão privilegiada,
Mais próxima do chão...
Um pouco muito
Distante do
Consagrado,
Congelado...
Pedra.
Que sua posição
Não se disponha
No sapato da evolução
Que continue, assim
No calo
Dos corações
Sem flores
Sem amores, sem dores...

                                                                  Aline Monteiro



“... e nessa mistura de desejo, amor, saudade... eu me encontro...”
(Te quero pra mim – Grupo Sentimento Puro)

sexta-feira, 3 de fevereiro de 2012

Interestelar



Quando as estrelas
Começam a surgir
Uma a uma
No céu claro de chuva
A pedir platéia
Para seu espetáculo uni cor
Existe algo que
Ressurge por entre luzes,
Reacende como chama
Sobre cinzas escuras
Buscando sentido
Daquilo que parecia sem resposta...
Então, me desdobro
A entender seus enigmas,
Essa falha de comunicação,
Esse desvio de rota...
Me ponho em fuga,
Leio livros,
Relembro teorias...
Por fim,
Entendo que sou
Um infinito reencontro
Andando em círculos...

                                                                      Aline Monteiro



“Num jogo estranho,
Eu vi a mim mesmo assim como você me conhecia
Quando a mudança chegou,
E você teve a
Oportunidade de me ver por dentro
Embora o outro lado
Seja exatamente o mesmo...
[...]
Embora tenhamos seguido em frente
Para economizar nosso tempo
Somos apenas o que sentimos...”

(On the way  – Neil Young)

quarta-feira, 1 de fevereiro de 2012

Matinée



Eu te espero agora!
Não te atrases
Mesmo sabendo
Que te esperaria
Por horas infindáveis,
Eternos segundos
Dos momentos
Que já se afastam
Da memória ...
Pra quê
Tanta demora?
São curtas-metragens
As histórias
De nossas vidas
Que se alinham
Em sessões
Do acaso...
Sorte ou destino
Não te atrases!

                                                                          Aline Monteiro


“... é a voz do teu amor que chama agora.”
(Boa pessoa – A banda mais bonita da cidade)

Para Thiago Soeiro.