Não sei como começar.
Não sei o que escrever.
Seria clichê demais
Começar um poema
Como todos os outros
Porque este e justamente este
É o poema dela.
E ela acredita nas minhas palavras
Soltas e livres, que insisto em
Prender em versos que
Por sua vez então presos
Em poemas.
E ela?
Insiste em libertá-los!
Talvez pelo medo de se
Prender em alguém
Por isso ela se prende a algo.
Algo como um texto seu
Escrito na adolescência,
Um filme em preto e branco
Visto por várias e várias vezes
Todas elas em êxtase!
Ou talvez a uma foto antiga
Que se apaga pouco a pouco
Com o tempo.
Ou ainda um bibelô
Coberto de poeira perdido
No quarto e esquecido
Em meio a tantas lembranças...
Suas lembranças...
Não as conheço. Nenhuma!
Mas sei que renascem
Da memória olfativa,
Invadem pensamentos,
Transportam a uma
Deliciosa nostalgia de infância
E vão embora...
Tão rápido quanto
Aquela chuva de verão
Ou o nascer ou o pôr-do-sol...
Mas rápido mesmo
É o tempo que falamos
Sobre a religião dos que
Ainda acreditam nela,
Sobre os pequenos
Príncipes que contam histórias,
Sobre os nossos heróis incomuns,
A complexidade do simples,
Sobre o temporal,
Sobre o pó de giz,
Sobre o nada...
Agora já sei como
Começar o poema.
Que tal do começo?
Mas creio que começar pelo
Começo é me aproximar do fim
Pois ainda a vejo
Como sempre foi.
E a certeza de que
Nada mudará isto
Me invade, me
Inunda uma gostosa
Sensação de felicidade
Porque eu sei que
Depois de TUDO
Ela ainda chegará
Como se nada tivesse
Acontecido...
Aline Monteiro