terça-feira, 31 de maio de 2011

Chegada



São tantas as perguntas.
O caminho é longo
E se distancia mais
A cada palavra que não pronunciei.
A cada palavra que não devia dizer.
Mas sinto que me aproximo
Quando começo a contar
As respostas que guardei...

                                                                      Aline Monteiro

A chegada é triste quando quem te acompanhou boa parte do caminho não está lá para te abraçar... (Aline M.)

“Daqui pra frente tudo vai ser diferente...”
(Se você pensa – Roberto Carlos e Erasmo Carlos)

domingo, 29 de maio de 2011

Flores na janela



Ficou observando a fina chuva
Através do vidro embaçado
...e inevitavelmente
Lembrou da dor de uma ausência
Porque acreditava que
Sempre que alguém morria
Uma fina chuva caía
Como se o dia também
Chorasse aquela perda.
Nos dias de chuva,
Era um estranho vazio
O que sentia.
Serenamente pensou
Um pouco sobre tudo.
A divagação terminou
Em milagres. E concluiu:
Nem sempre são a favor da vida.

                                                                        Aline Monteiro

"Quero saber o que mais, ao perder, eu ganhei. Por enquanto não sei; só ao me reviver é que vou ver".
(Clarice Lispector - A paixão segundo G. H.)

sexta-feira, 27 de maio de 2011

Divagações sobre o amor



A palavra amor assusta.
Tenho certeza.
Mas a pergunta é:
Por quê?
Por que
Exige resposta?
Imediata?
De reciprocidade
Ou não?
O que é mais importante?
O amor ou a palavra amor?
Tenho certeza:
Não é o amor que assusta.
É a palavra.

                                                         Aline Monteiro

"E hoje em dia. Como é que se diz: Eu te amo?"
(Vamos fazer um filme - Legião Urbana) 

sábado, 21 de maio de 2011

Como nascem os poemas



Minhas palavras calaram,
Sumiram...
Mas sinto que algumas
Ainda me restam,
Que ainda me pertencem.
Elas me cercam e me imploram um poema:
- Nenhum verso hoje?
Olho para a folha em branco
E balanço a cabeça negativamente:
- Estou de férias. Levanto, amasso a folha em branco
E vou embora...
- Que ingratidão! Elas respondem.
- Sempre escondemos os teus segredos,
Fomos o teu enigma, o teu mistério.
E retribuis com abandono?
Depois não reclames
Se nós também te abandonarmos!
- Não são palavras que me faltam,
São sentimentos. Devolvo.
- E por onde andam? É tão longe assim
Aonde eles se escondem?
- Sentimentos não se escondem. Apenas nascem e morrem,
Assim como eu nasci e um dia morrerei.
Assim como vocês também nasceram
E um dia também morrerão. Provoco.
- Então é isso? É isso que nos resta, a morte?
É isso que queres para as tuas palavras?
- Não. É exatamente o contrário!
Quero que elas se irritem comigo,
Que gritem,
Que me procurem, que me provoquem,
Que me perguntem...
Quero que elas me odeiem,
Que se encham de mim!
Quero que me xinguem,
Quero que me batam,
Quero que me matem...
Quero que me façam renascer,
Reviver...
Quero que me ensinem a enxergar,
A distinguir cores.
Quero que me ensinem a ler
Coisas bonitas e por vezes as coisas feias
Porque eu preciso disso também.
Quero que elas me ensinem a voar...
E é nesse vôo panorâmico
Que minhas palavras se libertam,
Formando no ar
Os primeiros versos,
As primeiras estrofes
E como num passe de mágica:
Nasce um poema
Que ao chegar, ainda cambaleante,
Na folha toda amassada
Me chama a pedir alguns retoques.
E é nesse momento, então
Que eu acordo...

                                                             Aline Monteiro

A pessoa que me “pediu” * para escrever este poema fala demais e disse que eu é que falo de menos, por isso o poema ficou grande e nele explico o trabalho que dá escrever um poema.
*aspas porque é uma ordem disfarçada de pedido.


“São muitas palavras, tantas quanto os fios de cabelo que caíram, quanto as rugas que ganhei, muito mais que os dentes que perdi. Esta coisa terrível de não ter ninguém para ouvir o meu grito. Esta coisa terrível de estar nesta ilha desde não sei quando”.

Caio F. Abreu
(O mar mais longe que eu vejo – Inventário do ir-remediável)

quinta-feira, 5 de maio de 2011

Ela



Ela podia chegar onde quisesse
No prédio mais alto,
No lugar mais longe
Não, ela não tinha asas
Ela era feliz!

                         Aline Monteiro
"Ela que descobriu o mundo
E sabe vê-lo do ângulo mais Bonito
Canta e melhora a vida, descobre sensações diferentes
Sente e vive intensamente

Aprende e continua aprendiz
Ensina muito e reboca os maiores amigos
Faz dança, cozinha, se balança na rede
E adormece em frente à bela vista

Sabe espantar o tédio
Cortar cabelo e nadar no mar
Tédio não passa nem por perto, é infinita, sensível, linda..."

(Gerânio - Nando Reis, Marisa Monte, Jennifer Gomes)