Quando
nasci um anjo bobo
Vestido
de arlequim disse:
-Vais
fazer da palavra teu carnaval de versos
Vais
colorir de vermelho-alaranjado o pôr-do-sol
Que
anda desbotado de telespectadores
Vais
fotografar sorrisos, desses que escandalizam
De
tanta beleza
Vais
explorar a linguagem ao invés da gramática
Porque linguagem é roupa e não cabide
E
toda vez que disserem
Jogando
palavras tortas ao vento
Insinuando
descaradamente que a forma
É
mais importante que o sentimento
Abrirás
tuas alas
Espalhando
feito confete e serpentina
A
tua poesia na avenida
Cantando
nas marchinhas os poetas preferidos:
Aqui
estão os meus padrinhos
Que
iluminaram o meu caminho
Adoçaram
meu cotidiano
E
me inundaram de possibilidades!
Quando
nasci
O
anjo-arlequim
Brincou
junto comigo
Meu
carnaval de versos!
Aline Monteiro
"Quando nasci era um
dia amarelo
Já fui pedindo chinelo
Rede café caramelo
O meu pai cuspiu farelo
Minha mãe quis enjoar
Meu pai falou mais um
bezerro desmamido
Meu Deus que será bandido
Soldado doido varrido
Milionário desvalido
Padre ou cantor popular
Nem Frank Zappa nem
Jackson do Pandeiro
Lobo bom ou mau cordeiro
Mais metade que inteiro
Me chamei Zeca Baleiro
Pra melhor me
apresentar"
(Vô Imbolá - Zeca Baleiro)