sábado, 21 de maio de 2011

Como nascem os poemas



Minhas palavras calaram,
Sumiram...
Mas sinto que algumas
Ainda me restam,
Que ainda me pertencem.
Elas me cercam e me imploram um poema:
- Nenhum verso hoje?
Olho para a folha em branco
E balanço a cabeça negativamente:
- Estou de férias. Levanto, amasso a folha em branco
E vou embora...
- Que ingratidão! Elas respondem.
- Sempre escondemos os teus segredos,
Fomos o teu enigma, o teu mistério.
E retribuis com abandono?
Depois não reclames
Se nós também te abandonarmos!
- Não são palavras que me faltam,
São sentimentos. Devolvo.
- E por onde andam? É tão longe assim
Aonde eles se escondem?
- Sentimentos não se escondem. Apenas nascem e morrem,
Assim como eu nasci e um dia morrerei.
Assim como vocês também nasceram
E um dia também morrerão. Provoco.
- Então é isso? É isso que nos resta, a morte?
É isso que queres para as tuas palavras?
- Não. É exatamente o contrário!
Quero que elas se irritem comigo,
Que gritem,
Que me procurem, que me provoquem,
Que me perguntem...
Quero que elas me odeiem,
Que se encham de mim!
Quero que me xinguem,
Quero que me batam,
Quero que me matem...
Quero que me façam renascer,
Reviver...
Quero que me ensinem a enxergar,
A distinguir cores.
Quero que me ensinem a ler
Coisas bonitas e por vezes as coisas feias
Porque eu preciso disso também.
Quero que elas me ensinem a voar...
E é nesse vôo panorâmico
Que minhas palavras se libertam,
Formando no ar
Os primeiros versos,
As primeiras estrofes
E como num passe de mágica:
Nasce um poema
Que ao chegar, ainda cambaleante,
Na folha toda amassada
Me chama a pedir alguns retoques.
E é nesse momento, então
Que eu acordo...

                                                             Aline Monteiro

A pessoa que me “pediu” * para escrever este poema fala demais e disse que eu é que falo de menos, por isso o poema ficou grande e nele explico o trabalho que dá escrever um poema.
*aspas porque é uma ordem disfarçada de pedido.


“São muitas palavras, tantas quanto os fios de cabelo que caíram, quanto as rugas que ganhei, muito mais que os dentes que perdi. Esta coisa terrível de não ter ninguém para ouvir o meu grito. Esta coisa terrível de estar nesta ilha desde não sei quando”.

Caio F. Abreu
(O mar mais longe que eu vejo – Inventário do ir-remediável)

7 comentários:

breno disse...

gostei bastante deste aki, agora sei + ou - como fazer um poema !!

Cris Barros disse...

Hummm fala de menos? Tá sei. Pq quando estamos conversando tu quase nem deixa eu abrir a minha boca?Se o assunto é Renata & Fabiano então... Inda bem que eu tenho plano infinity.

Lívia Almeida disse...

Impressionante!! Mas, é essa luta que travamos quando a inspiração nos falta e nos vemos desesperados a escrever... Com toda a certeza o nascimento de um poema não é simples exige muito de nós, mas exige exatamente porque queremos assim...

Adorei o blog. Te sigo agora!

Visite o "Meu Canto": cantodalianah.blogspot.com

Abraços!

xD

Lívia Almeida disse...

Obrigada!! Seja bem vinda ao Meu Canto, então nova moradora. Sinta-se em casa!

xD

Cristóvão Júnior disse...

Gostei de tudo que vi aqui, parabens pelo blog. CAio Fernando é alguem que merece debruço sobre seus escritos, um dia ainda irei fazê-lo.

Unknown disse...

Conheces pouquíssimo a pessoa que te pediu um poema novo... Ela não fala muito, ela apenas abriu uma exceção.
Lindo Parto, digo, poema.

Aline Monteiro disse...

eu sei... é impossível conhecer alguém em tão pouco tempo, eu a ela e ela a mim.