"O carnaval é uma coisa estranhíssima; Eu me vi dentro dele, como todo mundo, enquanto vítima e ator". (Édouard Manet)
quarta-feira, 3 de novembro de 2010
Tormenta
Em tempos difíceis o coração esmorece, parece querer parar de bater...
Mas não choro...
A dor física é mais aceitável, mais definida, com data e hora certas de partida e o choro vem na explosão, incontrolável...
A dor de dentro, parece sufocar, prende à garganta, se não explodir naquele momento, outro dia ela virá incansavelmente mais forte, persistente, exigindo lágrimas. Vem devastadora, querendo doer muito mais do que antes...
E se inevitavelmente choro é porque primeiro acreditei na vitória. Se uma outra saída se mostra possível, me antecipo e guardo o choro pra mais tarde, pra bem mais tarde... Me responsabilizando pelas conseqüências... Assumindo os erros... Reparando os danos... Evitando déjavus...
O choro reprimido incontestavelmente virá com gosto de derrota, uma derrota adiada, mas sem resquícios de arrependimentos, de ânsia de tentar, de apostar todas as fichas, de esgotar todas as chances enquanto não se ouvir o sinal de Game Over.
O choro antecipado parece ter gosto de entrega, de desistência, de fracasso...
Insisto em adiar o choro porque o gosto de se entregar pode ser mil vezes mais amargo do que o choro imediato mesmo que o primeiro seja conseqüência da derrota.
As oportunidades são preciosas, mas às vezes exigem preparo, maturidade...
Não tenho certeza de muitas coisas, na verdade não tenho certeza de nada!
Mas às vezes é bom acreditar que tudo tem seu tempo e principalmente tem suas razões de acontecerem...
Aline Monteiro
“Um dia desses, eu separo um tempinho e ponho em dia todos os choros que não tenho tido tempo de chorar”
(Carlos Drummond de Andrade)
“Se puderes dançar pelo ar também as estrelas poderão te abraçar
não continue agarrada em tuas dores elas não sabem dançar”
(Marilina Ross)
Drummond também acumulava os choros e Marilina Ross de uma maneira simples colocava as dores em uma caixinha para que elas não a impedissem de dançar... Há momentos em que o riso é mais útil que uma lágrima e mesmo não sabendo dançar, posso ouvir uma canção alegre, revigorante que seduza, que me envolva, que me provoque... Prender-se a dores é correr o risco de que elas criem raízes e permaneçam para sempre em seu coração, fechando portas para outros sentimentos, outras emoções, alegrias e até mesmo novas dores... Que se erre o passo da dança, que não se perca tempo se lamentando por isso e que o tempo para o choro seja o mais breve possível... (Aline Monteiro)
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